Durante uma vida acadêmica temos a oportunidade de construir saberes, de crescer no intelecto. Isso se baseia na aquisição de novos valores, valores científicos nunca antes provados, pois a vida estudantil básica não nos permite ir a fundo nas idéias e teorias que circulam nosso universo. Ainda mais no Brasil, onde educação fundamental e média não tem devido trato para formação de um quadro futuro de acadêmicos universitários. É na faculdade que temos a possibilidade de perto de usufruir daquilo que chamamos cultura, cultura de uma sociedade, a nossa sociedade, uma cultura intelectual de crescimento, de inovação de conhecimento, de aprendizados teóricos, metodológicos, filosóficos e práticos.
Está garantido na Constituição Federal, me corrijam se eu estiver errado, o direito e o acesso à cultura, como lá também nos fornece o entendimento de que a educação é comum à todos. Mas como ter acesso à cultura, à educação, ao conhecimento, se nos privam a todo momento disso? Observando algumas faculdades já vemos a sua distância da cidade, da sociedade, muitas vezes construídas ou em áreas perto das avenidas que ligam à rodovias de saída, ou em áreas nobres, de uma elite econômica, onde o preconceito prevalece sobre a acessibilidade. Muito poucas universidades e faculdades brasileiras são construidas ou estruturadas no centro de uma cidade (digo as boas instituições de ensino superior, não as puramente comerciais de qualidade duvidosa de ensino). Ou seja, o acesso ao ensino e às bibliotecas destas instituições são restritos, pois necessita-se de carros (denota-se poder aquisitivo) ou transporte coletivo público (mal estruturado e ofertado) para se praticar a Constituição.
Muito mais do que isso. Durante a faculdade quis eu muitas vezes participar de encontros, palestras, seminários, congressos na minha área. Como muitos outros estudantes, necessitamos complementar o estudo que nos é dado na sala de aula. É preciso se atualizar, entrar em contato com outras idéias, outros acadêmicos e discutir abertamente sobre um tema que seja de interesse. Isso é o propósito das atividades extras-curriculares, como chamam estes tipos de eventos. No entanto, aqui em Mato Grosso do Sul, por exemplo (como todo Estado não inserido no Sudeste ou Sul do país), não temos muitas oportunidades de participação em eventos de porte acadêmico, seja porque aqui ainda não está muito consolidado, quem sabe, o intelecto científico nas instituições, ou não se tem mesmo o mínimo interesse de organizá-los.
Somos então obrigados a buscar aperfeiçoamento e contato com semelhantes de nossa área em outras áreas, digo, regiões do Brasil, outras cidades. Aí entra o x da questão: como me deslocar a outros pólos e centros produtores de conhecimento? O acadêmico ainda não tem estrutura suficiente para bancar seus estudos, para isso está estudando, para se afirmar no mundo, contribuir para o desenvolvimento. Ele depende dos familiares. Mas muitos desses familiares são os reprovados para o futuro, que o nosso sistema de educação básica e média não deu acesso ou não deu o devido ensino que merecia. Foram barrados no sistema de exclusão de maioria econômicamente desativa, sistema imposto há séculos e que é super fiscalizado e vigiado pelo PODER para não haver falhas. E como auxiliar um membro da família que está tentando burlar esse sistema? Não há milagre de desmantelar essa engrenagem maligna de exclusão. Há apenas brechas.
E são por essa brechas que milhares de acadêmicos periodicamente passam para tentar melhorar de vida. Ou pegam carona na estrada para viajar à outra cidade, ou se humilham franciscanamente para obter uma bolsa de estudos, ou conseguem de algum membro da familia mais abastado ou um amigo. Mas não satisfeito o sistema ainda força para que os organizadores do evento transformem este em uma roleta de cassino, onde só ganha quem oferece mais. Muitos eventos optam por dois, três ou até quatro períodos de inscrições, para que possam se enriquecer sabe-se lá quantas vezes variados valores conforme a data e posteriormente talvez por má fé declarar a não realização do congresso e não devolução do valor de inscrição. Poucos organizadores são sérios e justos no preço cobrado para se adquirir cultura e educação, volto a dizer, garantidas na Constituição. E poucos organizadores são honestos de cobrar um bom valor pelo evento e trazer realmente algo e alguém que contribua para formação profissional e um certificado de grande peso.
Então como conseguir um bom estudo? Uma solução apontada seria a educação a distância de nível superior, mas além de se saber que muitas instituições apenas prezam pelo seu dinheiro na mensalidade e não tem o mínimo de ensino, respeito pelas dúvidas do aluno e conhecimento técnico (ver EAD UFMS), ainda não são aceitas no mercado de trabalho e no campo intelectual, devido a isenção parcial de participação presencial no curso.
Todos os dias milhares de acadêmicos tentam passar pelo sistema imposto pelo PODER e muitos conseguem à duras penas e sacrifícios, e é por isso que vemos hoje pessoas que se destacam como vencedoras na vida. Mas quando lá no PODER, sentada em uma poltrona de couro reclinável que nunca teve ou sonhou na vida defronte à uma janela com vista para o mar ou para uma avenida empresarial, esquece-se da labuta que foi conseguir chegar aonde está e joga pela lata de lixo inox da sala de reuniões tudo o que aprendeu na faculdade sobre ética, moral, sociedade e amizade. Então o sistema ganha, porque cooptou mais um para o quadro permanente de seu complicado mecanismo de engrenagens e funcionamento. E os outros que o apoiaram na sua trajetória para o sucesso sonhando com um defensor dos direitos constituicionais, voltam calados do combate, desanimados, apenas tentarão mais uma vez vencer o sistema. A vitória sofrida veio, mas faltou concretizar a esperança, pois esta anoiteceu.
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