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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Modus operandi: Rio de Janeiro

Quando Dom João aportou no Rio de Janeiro no início do século XIX viu uma cidade infestada de negros seminus, muita sujeira, pessoas sem a menor educação, pequenos roubos, delinquências médias sem nenhuma punição. O português não tinha nenhum savoir faire de noblesse, mas preferiu se abster dessa cultura brasileira já arraigada e deixar seu filho se imiscuir pelas vielas da capital. Dom Pedro I esteve entre negros, mulheres da vida, boêmia, arruaceiros e até bandidos: como príncipe não procurou descobrir a razão daquela vida que levavam e tentar uma melhoria significativa nessa sociedade já corrompida. Pelo contrário, apenas se limitou a imitar e fazer parte de algumas mazelas que o Rio já enfrentava naquela época.
No início do século XX, o prefeito Pereira Passos quis se atualizar à Belle Époque européia e destruir tudo que fosse o contrário da beleza, luxo e perfumaria no Rio de Janeiro. Sinal disso é a Avenida Rio Branco, centro da cidade, onde havia cortiços, esgoto à céu aberto, casas do tempo colonial que não ornavam com a nova República, favelas e morros com população desordenada. Ou seja, as mazelas do povo do tempo colonial foram apenas varridas pra debaixo do tapete. Getulio Vargas apenas refez o que Pereira Passos iniciou: destruiu mais metade do patrimônio histórico do Rio pra construir uma larga avenida que leva seu nome e que por anos permaneceu sem nenhuma construção interessante.
Anos 50, zona sul crescendo, se modificando, cidade maravilhosa um símbolo da beleza natural.  E assim foi até que nos anos 70 os morros, cantados em sambas e versos cheios de orgulho começou a mostrar os séculos de descaso com a população carente: surge o tráfico de drogas pesado que se torna poderoso e agressivo nos anos 80 e 90. Bandidos que mostram fuzis sem medo, matam jornalistas, intimidam a população da cidade, sequestram os bacanas da zona sul. Ora isso é o retrato do Rio de Janeiro desde o século XVII apenas modernizado, era o caos prenunciado mas velado, sob a forma do Rio way of life: malandro é malandro e mané é mané diria Bezerra da Silva ou ainda lá no morro quando olho pra baixo acho a cidade uma beleza, Fundo de Quintal.
2010. Crônica da morte anunciada. Polícia no Rio deflagra uma guerra contra o tráfico. O que fazer contra uma cultura carioca impregnada há séculos? Colocar policiais pra invadir o morro dominado pelo tráfico, sendo que este há muito está perdendo espaço pras milícias? Milicias formada por estes mesmos policiais que um dia irão se aposentar. Por que será que Tropa de Elite 2 foi focado justamente no enfrentamento de corrupção dentro do próprio Estado? Corrupção esta que faz parte desde que a Família Real chegou em 1808 e que já estava instalada, apenas ganhou contornos de beleza institucional. Então de que adianta invadir um morro, dois morros, dez morros se o problema não está lá? Está na população que apóia o tráfico e que agora vendo seus antigos patrocinadores e mecenas perdendo poder, se bandearam pro lado da polícia, que pode vir a ser a futura milícia do subúrbio. Está na falta de controle maior das fronteiras, um controle organizado, efetivo e ostensivo, com os mesmos aparatos usados agora nessa guerra urbana. Está também na cultura da população do "quanto eu vou ganhar com isso", da valorização da favela, da pichação como arte, do falar errado é pobrema meu, do futuro brilhante da Maria modelo e do João jogador, do quanto mais pobre melhor pra ganhar auxílio do governo.
Como querer resolver uma situação com enfrentamento de uma cultura permanente que encontra apoio nas camadas médias e altas, favorecendo a entrada de armas e drogas no país? Tolerância zero, mas não somente para os traficantes, mas também para milícias disfarçadas de policiais subversivos, população conivente, governo sem escrúpulos de uso de populismo para ganhar eleições, fronteiras devassadas e defasadas de monitoramento e principalmente tolerância zero para um orgulho de pertencer a uma cidade que ostenta o título de cidade maravilhosa, mas que aceita colocar por debaixo dos panos toda a podridão que cerca o seu dia a dia urbano. O problema do Rio de Janeiro não é do Brasil inteiro, é um problema só do Rio de Janeiro.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O futuro de Dilma

Passado o período de eleições, a vencedora do pleito Dilma Roussef está sob constante avaliação dos analista políticos e econômicos do Brasil e do mundo. Tentando passar icógnita da mídia após ser eleita presidente para não ofuscar o resto de mandato do Lula, disse que "presidente eleito não é atração, é no máximo notícia". Bom, isso é uma verdade, mas o que sugerem alguns analistas é que o governo da Dilma seria marcado por um populismo exacerbado e uma ala do PT bem voraz por projetos anti-democráticos e autoritários.
A mídia nos alertou contra o perigo de cercear a voz do jornalismo crítico, quando o presidente pronunciou alguns discursos anti-democráticos. Também acompanhamos bem de perto a relação próxima e íntima entre o presidente Lula e o presidente Chávez, Evo, Fidel, Rafael... Mas procurou se afastar de Michele Bachelet, de Alvaro Uribe e de Tabaré Vazquez. Não criticou veemente as propostas de deputados governistas que queriam uma emenda na Constituição para autorizar um possível terceiro mandato. Vimos insistentemente o presidente Lula usando da máquina pública sem nenhum pudor para eleger a candidata do PT, e ainda afirmou a necessidade de eliminação de alguns deputados e senadores da oposição que tanto lhe atrapalharam em seu mandato. Teve oportunidade junto com grandes líderes mundiais de se declarar negativo contra a tortura e morte de dissidentes cubanos, já que tanto lhe parece apetecer um cargo na ONU.
No entanto essas falhas graves não problematizaram gravemente sua governabilidade, não obstante os ecos indignados da oposição. Como vemos, o governo Lula foi marcado, entre outros tantos exemplos, por desvios no caminho da democracia. Mas conseguiu pôr em prática os planos de governo mais básicos à população. Dilma Roussef terá o mesmo destino? Conta com base aliada muito forte e poderosa, máquina pública a todo vapor e a seu favor, grandes aliados na América do Sul, economia estável, etc...
Isso dá governabilidade, mas também requer grande capacidade de articular, ceder e ser dura nas decisões. Terá de exercer principalmente competência e seguir o rumo democrático do crescimento do país. Ideologias políticas petistas farão parte da pauta da presidente, e provavelmente vez ou outra veremos estampadas na mídia, mas não poderão fazer parte da pauta da nação, e isso deve ser claro. Nenhum analista político sério prevê retrocessos no Brasil, apenas alguma estagnação pelo não cumprimento de projetos essenciais ao desenvolvimento da nação, caso Dilma venha a exercer um lado mais populista ou reacionário. A base sólida, o alicerce econômico, político e social construído desde o final dos anos oitenta está bem estabelecido. Contudo o futuro de Dilma obviamente tem de ser marcado pela competência em dizimar as mazelas que ainda assolam o país, sem demagogias ou manobras políticas de privilégios.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

o futuro de Obama

Esses dias estive no Uruguai, mais precisamente em Montevideo, e pude notar o estado econômico em que se encontra aquele país. Já foi considerado a Suiça da América do Sul e hoje tem uma economia ainda em médio crescimento, pautada pela produção de lã e carne.
Isso me fez pensar na atual situação dos Estados Unidos no cenário econômico mundial, a decadência que o dólar enfrenta nesses últimos anos. Pós crise e os ianques não conseguiram ainda uma estabilização na sua economia, a ainda maior do mundo. O presidente Obama declarou há alguns dias que o que é bom para os EUA é bom para o mundo. Alguns presidentes não concordaram, como o nosso Lula, visto que os objetivos econômicos do Brasil e de outros países não coincidem .
Mas até quando e onde vai o poder dos EUA sobre todo o mundo? Estamos vendo a ruína de um império que se consolidou no século XX mas que não conseguiu conter o processo evolutivo do principal germe e força motriz de seu progresso econômico: o capitalismo. Excesso de crédito, falta de ajustes monetários e limites para os bancos foram o estopim pra crise de 2008/2009. No entanto o presidente Obama insiste em colocar dólares no mercado, provocando uma guerra cambial principalmente nos países em franco desenvolvimento.
O dólar não tem mais força como moeda mundial, o emprego é escasso para os americanos e o poder de compra também é pequeno. A China vem crescendo a taxas avassaladoras e o Japão não é mais a grande vedete asiática. O euro está com problemas de sustentabilidade por conta da crise ainda vigente na Europa e os BRIC's estão tentanto se postrar no cenário da economia como fontes alternativas de crescimento.
Obama teve a infelicidade de pegar um país em crise e com duas guerras pra gerir. Até onde o império ianque conseguirá se sustentar? Roma caiu por vários fatores, alguns semelhantes hoje. E nunca mais se reergueu. A não ser nos livros de História.