É um drama ver aqueles que contribuíram para o crescimento da sociedade, a formação desta mesma em um todo de repente serem abandonados, esquecidos, apartados do cotidiano social. Outro dia estava lendo sobre o que aconteceu ao cantor Nelson Ned e fiquei surpreso com o que ocorre com a cultura na nossa sociedade. Foi muito famoso, ganhou muito dinheiro e se viciou nas drogas, logo buscando "salvação" mas igrejas evangélicas. Mas apesar disso hoje sofre problemas de saúde e não tem ajuda de igrejas das quais muito já cantou em seus cd's louvores a Cristo. Está esquecido até dos amigos e artistas, que se negam a contribuir para salvar um ícone da musica nacional.
Até aí pode ser piegas ficar dramático com o problema dos outros, não obstante que não se é piegas quando se diz que é cristão, mas a grande questão é: quando se lembra em algum programa ou rádio o nome desse cantor? Desse que foi o único na América Latina a lotar 4 vezes o Carnegie Hall e vender 100 milhões de discos nos EUA? Que é o artista brasileiro talvez mais reconhecido que Roberto Carlos na América Latina?
Entretanto, enquanto isso vemos artistas sem experiência nenhuma, sem sucesso nenhum, sem tino pra arte entrarem no hall da fama e grudarem como chiclete nas rádios todas manhã e tarde, infernizando nossos aparelhos radiofônicos automotivos e do lar. Na mesma linha de pensamento e no mesmo GOOGLE apareceu a triste história de Tinoco, da dupla Tonico e Tinoco. Está sozinho sem o companheiro, tendo de gastar com tratamento caro de saúde da mulher, recebendo do INSS a módica quantia de R$ 1000,00 por mês, e tendo de se apresentar em shows pela metade do valor que ganhava com a dupla, aos quase noventa anos de idade. Detalhe: quase 2.000 canções compostas e gravadas que serviram de base para muitas duplas sertanejas de sucesso consolidado hoje em dia que nem se dão conta do esquecimento desses baluartes da cultura nacional. Está sendo ajudado por outros artistas também em esquecimento mas que conseguiram uma melhor oportunidade da vida pós sucesso.
O que dizer desses casos? É simplesmente elucidar que o povo brasileiro esquece das obrigações de perpetuar aquilo que solidificou as estruturas culturais do seu país, esquece que para hoje termos bandas e cantores despontando em um sucesso arrebatador no cenário meteórico das artes é porque houve antes outros que trilharam um caminho de dificuldades para ter seu sucesso reconhecido e abrir os olhos dos empresários para o lucro que pode vir das artes.
O que fazer? Não é jogar fora todo estilo musical ou rechaçar este ou aquele grupo/cantor, é saber discernir do que é bom e o que não é bom, o que pode contribuir para o progresso e o que somente vai trazer atraso ou nos deixar estacionados na evolução. A sociedade tem meios e gente capacitada e apta para trabalhar na preservação do antigo e divulgação do novo conteúdo cultural de nosso país. Falta essa própria sociedade colaborar e cobrar de quem é capacitado e pago pra fazer isso. Resta apenas algumas notícias esparsas na internet e pesquisadores ou curiosos para descobrir e divulgar como andam nossos melhores artistas e contribuintes da sociedade cultural estagnada que vivemos hoje.